O atual sistema capitalista, em crise aguda desde o final de 2008, percorre verdadeiros “labirintos” na busca de saídas imediatas para sua reprodução. Uma superpotência global -- os Estados Unidos -- cada vez menos capaz de financiar este status e uma Ásia -- centrada na China -- que vai se conformando como o novo centro dinâmico da economia internacional: é neste quadro mundial que teve início a reunião anual do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, e é sob essas características que as soluções encontradas neste encontro podem se assemelhar mais a exercícios de “enxugar gelo” do que em caminhos capazes de alterar o quadro econômico no mundo.
Os labirintos em que de meses em meses – e até de dias em dias – o sistema se depara podem ser sintetizados em alguns acontecimentos nada abstratos: recuperação lenta das economias norte-americana e européia, sem a contrapartida da geração de empregos; guerra comercial e cambial crescente entre as nações, com destaque para a impressão de mais de US$ 600 bilhões pelo Banco Central dos EUA, o Fed, com conseqüente aumento da liquidez global, diminuindo a competitividade de países como o Brasil, mas sem solucionar a essência do problema norte-americano. Por outro lado, a crise do euro pode descambar não para uma crise financeira qualquer e sim para uma crise de solvência monetária do próprio euro, colocando em questão as próprias fundações da Comunidade Econômica Européia.
A gasolina na fogueira da ordem econômica internacional reside numa “estagflação” que afeta diretamente os países periféricos, notadamente os africanos, onde a alta dos preços dos alimentos está atingindo níveis inimagináveis para um mundo onde a produção destes bens já é capaz de satisfazer mais do dobro da população da terra. Mas quem manda no sistema não são as necessidades humanas e sim os interesses de grandes monopólios e oligopólios com grande taxa de retorno financeiro proveniente – também – da própria especulação sobre o mercado de futuros de commodities, entre eles o trigo. Daí países da África do Norte (incluindo Tunísia e Egito) estarem diante de protestos populares que estão colocando em xeque governos submissos aos interesses do imperialismo: nesses países em menos de seis meses o preço de produtos alimentícios básicos teve alta média de 30%!!!
Será que essa reunião em Davos terá capacidade de enfrentar contradições estruturais de tamanha monta sem colocar em jogo a própria razão de existir do capitalismo? Será que encontrarão fórmulas mágicas para conter o avanço da extrema-direita na Europa e nos Estados Unidos? Evidente que não. A lógica do labirinto se torna uma realidade tão objetiva que a “luz no fim do túnel” não está numa “reunião de ricos e especuladores” como a de Davos. Da mesma forma que as soluções para nossos problemas não está, no Brasil, sob a forma de "combate à inflação" e o empreendimento de "erradicar a pobreza extrema" elevando juros e cortando gastos e investimentos.
Enquanto isso, aumenta a resistência dos povos nos protestos de trabalhadores na Europa, nas ruas do Cairo, de Túnis e nas crescentes medidas de proteção econômica, incentivos fiscais e monetários às empresas nacionais e controle sob o fluxo de capitais encetada por países - dentre vários exemplos - como a Tailândia, Cingapura, Coreia do Sul e, mais recentemente, na outrora ultraliberal Turquia.
Renato Rabelo é Presidente Nacional do Partido Comunista do Brasil (PCdoB).
fonte: http://renatorabelobr.blogspot.com/
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