Terminou neste domingo (4/12) o 39º Congresso da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), que reuniu em São Paulo cerca de cinco mil estudantes do ensino fundamental, médio, profissionalizante e pré-vestibular de todos os estados do país. Os encontro começou na quinta-feira e os dois primeiros dias ocorreram no Expo Center Norte. Já a plenária final foi realizada no ginásio do Colégio Salesiano, em Santa Teresinha. Os jovens elegeram, como nova presidenta, a estudante pernambucana Manuela Braga, de 19 anos, aluna do curso técnico de Saneamento Ambiental no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE).
Manuela, que vive no Recife e cujos pais vieram do interior, terá agora o desafio de percorrer as escolas de todo o país, conhecendo os problemas de cada grêmio e debatendo soluções para a educação brasileira. Ela é fã de música brasileira e literatura, já havia sido presidente da União Metropolitana dos Estudantes Secundaristas de Recife (UMES) e líder do grêmio de sua escola. (Leia mais abaixo o perfil completo da nova presidente da UBES)
Participaram da votação 1.561 delegados, estudantes escolhidos em eleições realizadas em escolas de todo o país. A chapa que elegeu Manuela, “Movimento estudantil unificado pelas mudanças do Brasil”, teve 1.288 votos, correspondendo a 82,5% do total. O outro candidato à presidente da UBES foi Gladson Reis, de Belo Horizonte, representando a chapa “Rebele-se: A UBES é para lutar”, que teve 273 votos, 17,5% do total.
Considerado o mais importante encontro do movimento estudantil brasileiro, ao lado do Congresso da UNE, o Congresso da UBES definiu os rumos do movimento estudantil secundarista para os próximos dois anos. Com o tema “Todos juntos por uma educação do tamanho do Brasil”, o encontro serviu também para convocar a manifestação #OcupeBrasília, um acampamento dos jovens na Esplanada dos Ministérios, a partir dessa segunda-feira (5), em defesa da aprovação do Plano Nacional de Educação (PNE) com 10% do PIB investidos nesse setor.
MACABÉA ÀS AVESSAS: DO NORDESTE PARA OS HOLOFOTES
A estudante Manuela Braga, de 19 anos, aluna do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFPE), diz que sempre esteve entre as mais estudiosas na escola: “Não consigo não estudar”, revela, rejeitando porém o rótulo de nerd ou cabeçuda. A partir de agora, terá de conciliar as aulas, livros e provas do curso de Saneamento Ambiental com a grandiosa missão de representar todos os milhões de estudantes brasileiros do ensino fundamental, médio, técnico e pré-vestibular como nova presidenta da sexagenária União Brasileira dos Estudantes Secundaristas.
Ao que parece, não será fácil. Nos bastidores do Congresso que a elegeu, visivelmente emocionada, deixa escapar que está com a cabeça, também, nas aulas de biotecnologia. Na verdade, facilidade não é a regra na história de vida dessa jovem nordestina, cuja mãe veio da pequena Nazaré, no interior do Piauí, e o pai de Vicência, no sertão pernambucano. Os dois se mudaram para o Recife nos anos 80, ela como babá e ele como vendedor de marmitas. Hoje, observam o progresso da filha, entre os livros e a militância. Participante da União da Juventude Socialista (UJS), antes de se tornar presidenta da UBES, ela presidiu também a União Metropolitana de Estudantes Secundaristas do Recife e foi líder do grêmio de sua escola técnica.
Comunicativa e animada, Manuela é fã de forró, MPB e até funk carioca, guarda carinho também pelo teatro e pelo cinema. Na literatura, seu livro favorito é “A Hora da Estrela”, cânone de Clarice Lispector. Curiosamente, o romance conta a vida de outra jovem nordestina, Macabéa, com origens familiares pobres nos rincões do Brasil. No entanto, ao contrário da personagem lispectoriana, cuja triste trajetória é marcada pela exclusão social, pela opressão e o esquecimento no sudeste, Manuela ganha o centro das atenções no debate público do país, tendo muito a falar e disposta a mudar a realidade:
“Sempre me incomodei em conhecer estudantes pobres que não assistiam aula por não ter dinheiro para o transporte, sempre me incomodei em conhecer alunos do turno da noite que não possuíam dinheiro para a alimentação. Essa ainda é a realidade de muitos, não somente no nordeste, mas em todo o país”, afirma. Como principais objetivos de sua gestão Manuela elenca a ampliação do ensino técnico e de projetos como o Pronatec, a reforma do ensino médio aliando a educação propedêutica à aprendizagem profisisonal, o aumento de investimentos na escola pública, a conquista federal da meia-entrada e do passe-livre para estudantes de todos os estados e o fortalecimento das políticas públicas para a juventude no país.
Além disso, espera ver o movimento estudantil secundarista ainda mais antenado com outras pautas como o meio ambiente, assunto que gosta e domina, e o preconceito contra as mulheres. “Conheço muitas meninas, dentro das escolas desse país, que têm sonhos, inteligência e muita capacidade de participar dos grêmios, da UBES, mas sofrem preconceitos e repressão de todos os tipos. São mal vistas pelos colegas, pela família, pela sociedade que não compreende uma mulher nova e livre, com participação política, poder e voz. Isso precisa mudar”, enfatiza, em um tom que soa como um convite a todas as potenciais jovens Macabéas do Brasil a se tornarem protagonistas na mudança do roteiro de suas vidas e da nação.
Artênius Daniel e Rafael Minoro para o Blog da UBES
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