quinta-feira, 5 de abril de 2012

Ditadura não se comemora: Comissão da Verdade neles!

Em 1964 ocorreu no Brasil um golpe militar que iniciou a mais longa ditadura que já vivenciamos. Foram 21 anos de repressão. Muitas pessoas foram presas, assassinadas e barbaramente torturadas; peças de teatro, jornais, revistas e livros foram censurados; entidades do movimento estudantil e partidos fechados; opositores exilados; civis julgados em tribunais militares; mais de 140 pessoas permanecem como desaparecidos políticos até hoje.


Mesmo assim, em várias cidades do país, o golpe foi comemorado em clubes militares. A comemoração de maior repercussão aconteceu no Rio de Janeiro, em 29 de março, onde militares dirigentes da ditadura foram repreendidos com gritos de protesto e muita indignação por filhos de mortos e desaparecidos políticos, além de diversos partidos e movimentos sociais. 

Para mostrar que continuam poderosos, livres e impunes por seus crimes, responderam à manifestação com bombas de gás lacrimogêneo, cacetetes e pimenta. A repressão ao ato contra a comemoração da ditadura deixou vários feridos entre os que participavam ou mesmo cobriam o protesto. Uma vergonha para um país que se considera democrático. 

Durante o episódio lastimável, uma manifestante gritou a palavra de ordem que está engasgada há décadas na garganta dos brasileiros: "Comissão da Verdade neles!". O vídeo com o grito abafado da jovem, em meio à bombas e gás de pimenta, é emblemático. Revela que a injustiça não pode seguir silenciando o passado de um país que desponta para o futuro.

A ditadura ainda não foi superada

Ao contrário de outros países que também passaram por ditaduras, o Brasil não conseguiu superar este período de maneira eficaz. Nenhum militar, torturador ou financiador do regime foi julgado, os arquivos do período ainda não foram abertos e só passamos a discutir a formação de uma Comissão Nacional da Verdade (capaz de fazer justiça ao passado de violências) 25 anos após o término da ditadura e com enormes limitações que comprometem seriamente sua eficácia. 

Essa transição política problemática da ditadura para a democracia garante a permanência de diversas práticas de caráter ditatorial como vemos na forte repressão aos movimentos sociais, no uso recorrente da tortura como método investigativo, na truculência policial, etc. Basta lembrarmos do caso recente do Pinheirinho. Longe de ser um assunto do passado, a superação da ditadura civil-militar é uma luta do presente e exige nosso compromisso.

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