sábado, 9 de outubro de 2010

No 2º turno, é preciso radicalizar debate programático - Renato Rabelo

O enfrentamento de duas forças políticas antagônicas no segundo turno evidencia, de maneira ainda mais clara do que no primeiro turno, a necessidade de se debater os programas de governo de Dilma Rousseff e José Serra e de ressaltar as diferenças que marcaram os mandatos de Lula e FHC. Esta foi uma das principais indicações feitas por Renato Rabelo, presidente do PCdoB, na abertura da reunião da Comissão Política Nacional do partido nesta sexta-feira (8) em São Paulo


Membros da CPN debatem segundo turno
Renato Rabelo também reafirmou a vantagem de Dilma, que chegou a quase 47% dos votos válidos. “A oposição quer fazer crer que saiu vitoriosa do primeiro turno e nós, derrotados, como havia feito em 2006. Mas a verdade é que Dilma saiu na frente no primeiro turno e é a favorita. Podemos avançar no debate programático porque temos propostas e temos fatos concretos – as vitórias do governo Lula – que embasam essas propostas. E Dilma foi peça-chave nesse processo de mudanças pelo qual o Brasil vem passando”.

Para se contrapor à ação da direita – que vem buscando desgastar Dilma especialmente nos últimos meses de campanha – o dirigente enfatizou a necessidade de “reunir todas as forças políticas e sociais que for possível e promover amplos comitês de apoio para aumentar ainda mais a campanha de Dilma”.

Um dos focos será fortalecer essa movimentação em São Paulo, Minas Gerais e Paraná, estados que estão entre os maiores colégios eleitorais do Brasil e que são hoje os principais redutos tucanos. E a linha geral que deve nortear esse trabalho é a defesa das propostas que já vêm sendo trabalhadas pelo governo e que dizem respeito, entre outras questões, ao desenvolvimento com distribuição de renda, à geração de emprego, à soberania nacional, à integração latino-americana e à sustentabilidade. “Devemos mostrar para a população que estas não são bandeiras abstratas, mas conquistas reais que já estão sendo implementadas”.
Outro ponto que salientou é a busca pelos eleitores de Marina Silva. “Para isso, precisamos mobilizar lideranças de diversos setores e falar diretamente com esses votantes”.

Análise do primeiro turno
Renato e a vice-presidente, Luciana Santos
Durante sua intervenção na reunião da Comissão Política Nacional, Renato Rabelo também analisou alguns pontos do primeiro turno, lembrando as conquistas obtidas pelo campo de apoio de Dilma no Congresso Nacional. “Conquistamos praticamente 70% da Câmara e do Senado. Desde a eleição de Lula em 2002 não se conseguia isso. É uma mudança qualitativa muito importante que muda a correlação de forças na política brasileira”.

Além disso, Rabelo descreveu as fases que marcaram o embate que resultou no segundo turno. “Inicialmente, a campanha foi marcada pelo grande apoio de Lula, com a caracterização de Dilma como a segunda pessoa mais importante do governo e com capacidade para continuar e avançar no projeto implantado pelo presidente. Apesar da ação da mídia hegemônica, a transferência de voto teve efeito”.

A segunda fase seria marcada justamente pelo êxito que teve a campanha de atrair para Dilma os eleitores de Lula, o que fez com que a candidata subisse consideravelmente nas pesquisas. “Neste momento, a oposição ficou desnorteada; Serra se perde entre a crítica a Lula e a tentativa de se aproximar dele. Esse sistema de oposição – formado pelos partidos conservadores, a mídia e setores elitistas da sociedade – começa, então, o vale-tudo, a guerra suja de ataques e mentiras”, ressaltou Renato. Fazem parte dessa tática a tentativa de colar em Dilma a responsabilidade pela quebra de sigilo na Receita Federal e as denúncias envolvendo o filho da ex-ministra da Casa Civil, Erenice Guerra. “Tudo isso teve impacto na candidatura de Dilma e, na reta final da campanha, vieram os ataques ligados à exploração de questões religiosas e do aborto”.

Na avaliação de Rabelo, nesse processo o “Comando de Campanha de Dilma subestimou o alcance dessa estratégia rasteira. Faltou também nitidez programática, os grandes temas ficaram de fora e isso abriu caminho para aumentar o impacto dessa campanha caluniosa. Serra permaneceu no mesmo percentual de intenção de voto, e o Comando de Campanha de Dilma não se deu conta de que com isso Marina crescia”.

Vitórias comunistas
A parte final da apresentação de Renato Rabelo concentrou-se nos resultados obtidos pelo PCdoB. Ele reafirmou a avaliação feita logo após a conclusão da apuração do primeiro turno: “alcançamos resultados positivos”. Analisando a partir de 2002, quando o partido passou a investir mais nas candidaturas ao Senado, Câmara, prefeituras e agora governo estadual, Rabelo constatou que o PCdoB “vem conseguindo manter, desde então, um processo progressivo de crescimento com maior projeção de lideranças comunistas em estados importantes”.

Para exemplificar esse processo, o dirigente lembrou que em 2002, o partido não tinha nenhum senador e hoje tem dois; que em 2006, teve a quinta maior votação para o Senado e hoje ocupa a quarta posição e que o partido conseguiu chegar a 15 deputados federais, sendo que na última eleição eles eram 13, o que significa um crescimento de 15,40% em relação ao número de eleitos e de 25% em relação à bancada atual.

No que diz respeito às assembleias legislativas – em que o partido saiu de 15 para 19 deputados estaduais – Rabelo disse: “aceleramos o crescimento e conseguimos um bom desempenho com chapas próprias na maioria dos estados”. Vale lembrar que tais resultados podem ainda sofrer alterações devido a situações pendentes junto à justiça eleitoral em alguns estados.

Renato ainda ressaltou o “brilhantismo da campanha de Flávio Dino ao governo do Maranhão”, que deixou de ir ao segundo turno com Roseana Sarney (PMDB) por apenas 0,04% dos votos. “E conseguimos isso sem apoio de nenhum grande partido. É um resultado excepcional e uma grande vitória política porque Flávio consolidou-se como uma verdadeira alternativa de renovação da política local”. Ele ressaltou ainda o sucesso obtido em diversos estados em todos os níveis da disputa.

Segundo Renato, a evolução do PCdoB deve ser vista dentro do contexto nacional e internacional. “Não estamos num período de viradas revolucionárias e no sistema atual, em que ainda é forte a presença de forças conservadoras e neoliberais, são limitadas as condições de crescimento dos partidos comunistas. Além disso, o sistema eleitoral brasileiro é desigual e o que tem força é o poder econômico, as classes dominantes e o uso das máquinas, o que emperra o crescimento mais robusto do PCdoB, um partido que tem uma natureza diferenciada”.

De São Paulo,
Priscila Lobregatte



Fonte: www.vermelho.org.br

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