O enfrentamento de duas forças políticas antagônicas no segundo turno evidencia, de maneira ainda mais clara do que no primeiro turno, a necessidade de se debater os programas de governo de Dilma Rousseff e José Serra e de ressaltar as diferenças que marcaram os mandatos de Lula e FHC. Esta foi uma das principais indicações feitas por Renato Rabelo, presidente do PCdoB, na abertura da reunião da Comissão Política Nacional do partido nesta sexta-feira (8) em São Paulo.
Membros da CPN debatem segundo turno |
Para se contrapor à ação da direita – que vem buscando desgastar Dilma especialmente nos últimos meses de campanha – o dirigente enfatizou a necessidade de “reunir todas as forças políticas e sociais que for possível e promover amplos comitês de apoio para aumentar ainda mais a campanha de Dilma”.
Um dos focos será fortalecer essa movimentação em São Paulo, Minas Gerais e Paraná, estados que estão entre os maiores colégios eleitorais do Brasil e que são hoje os principais redutos tucanos. E a linha geral que deve nortear esse trabalho é a defesa das propostas que já vêm sendo trabalhadas pelo governo e que dizem respeito, entre outras questões, ao desenvolvimento com distribuição de renda, à geração de emprego, à soberania nacional, à integração latino-americana e à sustentabilidade. “Devemos mostrar para a população que estas não são bandeiras abstratas, mas conquistas reais que já estão sendo implementadas”.
Outro ponto que salientou é a busca pelos eleitores de Marina Silva. “Para isso, precisamos mobilizar lideranças de diversos setores e falar diretamente com esses votantes”.
Análise do primeiro turno
Renato e a vice-presidente, Luciana Santos |
Além disso, Rabelo descreveu as fases que marcaram o embate que resultou no segundo turno. “Inicialmente, a campanha foi marcada pelo grande apoio de Lula, com a caracterização de Dilma como a segunda pessoa mais importante do governo e com capacidade para continuar e avançar no projeto implantado pelo presidente. Apesar da ação da mídia hegemônica, a transferência de voto teve efeito”.
A segunda fase seria marcada justamente pelo êxito que teve a campanha de atrair para Dilma os eleitores de Lula, o que fez com que a candidata subisse consideravelmente nas pesquisas. “Neste momento, a oposição ficou desnorteada; Serra se perde entre a crítica a Lula e a tentativa de se aproximar dele. Esse sistema de oposição – formado pelos partidos conservadores, a mídia e setores elitistas da sociedade – começa, então, o vale-tudo, a guerra suja de ataques e mentiras”, ressaltou Renato. Fazem parte dessa tática a tentativa de colar em Dilma a responsabilidade pela quebra de sigilo na Receita Federal e as denúncias envolvendo o filho da ex-ministra da Casa Civil, Erenice Guerra. “Tudo isso teve impacto na candidatura de Dilma e, na reta final da campanha, vieram os ataques ligados à exploração de questões religiosas e do aborto”.
Na avaliação de Rabelo, nesse processo o “Comando de Campanha de Dilma subestimou o alcance dessa estratégia rasteira. Faltou também nitidez programática, os grandes temas ficaram de fora e isso abriu caminho para aumentar o impacto dessa campanha caluniosa. Serra permaneceu no mesmo percentual de intenção de voto, e o Comando de Campanha de Dilma não se deu conta de que com isso Marina crescia”.
Vitórias comunistas
A parte final da apresentação de Renato Rabelo concentrou-se nos resultados obtidos pelo PCdoB. Ele reafirmou a avaliação feita logo após a conclusão da apuração do primeiro turno: “alcançamos resultados positivos”. Analisando a partir de 2002, quando o partido passou a investir mais nas candidaturas ao Senado, Câmara, prefeituras e agora governo estadual, Rabelo constatou que o PCdoB “vem conseguindo manter, desde então, um processo progressivo de crescimento com maior projeção de lideranças comunistas em estados importantes”.
Para exemplificar esse processo, o dirigente lembrou que em 2002, o partido não tinha nenhum senador e hoje tem dois; que em 2006, teve a quinta maior votação para o Senado e hoje ocupa a quarta posição e que o partido conseguiu chegar a 15 deputados federais, sendo que na última eleição eles eram 13, o que significa um crescimento de 15,40% em relação ao número de eleitos e de 25% em relação à bancada atual.
No que diz respeito às assembleias legislativas – em que o partido saiu de 15 para 19 deputados estaduais – Rabelo disse: “aceleramos o crescimento e conseguimos um bom desempenho com chapas próprias na maioria dos estados”. Vale lembrar que tais resultados podem ainda sofrer alterações devido a situações pendentes junto à justiça eleitoral em alguns estados.
Renato ainda ressaltou o “brilhantismo da campanha de Flávio Dino ao governo do Maranhão”, que deixou de ir ao segundo turno com Roseana Sarney (PMDB) por apenas 0,04% dos votos. “E conseguimos isso sem apoio de nenhum grande partido. É um resultado excepcional e uma grande vitória política porque Flávio consolidou-se como uma verdadeira alternativa de renovação da política local”. Ele ressaltou ainda o sucesso obtido em diversos estados em todos os níveis da disputa.
Segundo Renato, a evolução do PCdoB deve ser vista dentro do contexto nacional e internacional. “Não estamos num período de viradas revolucionárias e no sistema atual, em que ainda é forte a presença de forças conservadoras e neoliberais, são limitadas as condições de crescimento dos partidos comunistas. Além disso, o sistema eleitoral brasileiro é desigual e o que tem força é o poder econômico, as classes dominantes e o uso das máquinas, o que emperra o crescimento mais robusto do PCdoB, um partido que tem uma natureza diferenciada”.
De São Paulo,
Priscila Lobregatte
Fonte: www.vermelho.org.br
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