terça-feira, 30 de agosto de 2011

Renato Rabelo: É urgente a luta por uma nova ordem, o socialismo!


O sistema capitalista e o modelo neoliberal, vigente nas últimas décadas, entraram em um grande impasse, desmoralizando seus apologistas que pregavam sua infalibilidade. Especialmente após a crise econômica e financeira desencadeada a partir de meados de 2007, com epicentro no sistema financeiro dos Estados Unidos, evidenciam-se os limites históricos do capitalismo.

É mais nítido do que em qualquer outro período histórico o abismo que separa o capitalismo e o imperialismo das aspirações da humanidade, e torna-se indispensável e urgente a luta por uma nova ordem internacional e por um novo sistema econômico e social – o socialismo. O capitalismo não é uma formação política, econômica e social eterna. 

Cada vez mais os povos e os trabalhadores se aproximarão da encruzilhada histórica: capitalismo – com suas crises e guerras – ou um sistema social superior, cuja alternativa é o socialismo. Neste sentido é essencial extrair ensinamentos das experiências vividas. 

Temos convicção que uma das grandes lições que se deve extrair das primeiras experiências de construção do socialismo no século 20 é a ideia de que não há modelo único de socialismo, nem caminho universal de conquista do poder político. As revoluções vitoriosas do século passado, cada uma delas – na Rússia, na China, no Vietnã, em Cuba – seguiram caminhos próprios. 

Cada povo e cada força revolucionária construirão seu próprio rumo ao socialismo, e construirão este sistema de acordo com sua realidade nacional. De um modo geral, a correlação de forças prevalecente no mundo ainda é estrategicamente desfavorável do ponto de vista do amadurecimento das condições para as lutas pela superação revolucionária do capitalismo, da construção de uma nova sociedade. 

No entanto, importantes transformações políticas que vêm marcando a conjuntura internacional indicam que se estão processando avanços na situação mundial que melhoram as condições para lutar e que se intensifica a acumulação revolucionária de forças. 

A luta anti-imperialista assume maiores dimensões, aparece como a marca da época, tendência capaz de mobilizar grandes contingentes, de desatar energias criadoras e revolucionárias dos povos.Em nosso país, o Partido Comunista do Brasil, PCdoB, orientado pelo seu programa, está convicto que a luta por um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento é o caminho brasileiro para o socialismo. 

Um projeto nacional que fortaleça a economia nacional, promova o desenvolvimento social do povo brasileiro, amplie a democracia e as reformas estruturais como a reforma agrária, a reforma urbana, a tributária, a reforma política e da educação entre outras, e promova a integração das nações sul-americanas e a solidariedade internacional. Por isso, o PCdoB tem contribuído para construir alianças necessárias para as transformações avançadas no sentido democrático, progressista e popular. 

Temos dado um aporte significativo para os êxitos do novo período político nacional, aberto com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002 e continuado com a vitória da primeira mulher para a presidência da República em 2010. O Novo Projeto Nacional deu seus primeiros passos com o ex-presidente Lula, e nossa luta é que avance agora no governo Dilma Rousseff. Mas, a luta pelo socialismo, só vai prosperar se em nosso país se houver uma esquerda forte e um PCdoB cada vez maior e influente. 

O PCdoB é um partido de vida e ação permanente, que trata do aperfeiçoamento partidário constantemente, avançando na organização de sua militância. O Partido mantém uma escola nacional de quadros onde tem formado militantes e lideranças para a atividade política, teórica e partidária. A doutrina, a política e os objetivos do partido estão definidos em seu programa Socialista e em seu Estatuto partidário. 

Após o episódio emblemático da queda do muro de Berlim e do fim da União Soviética, levando à apostasia uma grande leva de partidos comunistas e socialistas no mundo, o PCdoB, ao contrário, reavivou sua identidade comunista e atualizou seus princípios revolucionários, anti-imperialistas e anticapitalistas. 

O Partido também apoia a publicação de uma revista teórica e de informação – a Princípios -- que completou 30 anos, divulgadora das ideias marxistas e progressistas, com uma extensa rede de colaboradores em todos os domínios do conhecimento científico e cultural de nosso país. O site Vermelho, sob direção do PCdoB, é hoje um conceituado espaço de difusão e debate de ideias avançadas, propagador do programa partidário, por duas vezes campeão do premio IBest. 

O PCdoB tem bancadas parlamentares na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, que gozam de respeito e influência, sendo seus parlamentares chamados a contribuir em temas relevantes e em momentos decisivos, numa demonstração de suas capacidades e experiência. Na crise mais aguda do então governo de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2005, Aldo Rebelo foi chamado a disputar a presidência da Câmara dos Deputados, porque na base do governo é quem reunia melhores condições para afastar a ameaça da vitória da oposição. 

O Partido Comunista vai assim ocupando espaços políticos importantes, na área do esporte como fator de inclusão social e na conquista de dois importantes eventos mundiais como a Copa do Mundo de futebol em 2014 e as Olimpíadas de 2016. Na formulação de um novo marco regulatório para a exploração do petróleo com a importante contribuição da Agencia Nacional de Petróleo. 

Na área da Cultura, com os Pontos de Cultura, do cinema nacional, na Ancine e na área da Ciência e da Tecnologia, com o trabalho feito na Finep e agora no Conselho Nacional de C&T. Além do trabalho em nível federal, são muitas as contribuições de lideranças comunistas em prefeituras e governos estaduais.

O PCdoB não mudou de trincheira e ousa lutar! Está empenhado na organização dos trabalhadores e contribui na construção da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil – CTB – lutando pela unidade em mobilizações conjuntas e concretas do movimento sindical brasileiro. No âmbito dos jovens, parcela significativa da população brasileira, o PCdoB é força dirigente da União da Juventude Socialista – UJS – organização nacional fundada há mais de duas décadas, com 120 mil filiados. 

A UJS tem papel protagonista entre os estudantes universitários e secundaristas, mantendo a UNE e a UBES como entidades únicas dos estudantes, em defesa dos seus direitos e anseios, com diretorias plurais compostas de representantes de vários partidos. O PCdoB também tem uma atividade destacada entre as mulheres, onde o Partido organizou a União Brasileira de Mulheres – UBM – entre os que lutam contra as discriminações e manifestações de racismo – UNEGRO e tem significativa militância em defesa da causa das minorias indígenas do país. A situação do Brasil atual é insólita e favorável para as forças democráticas e populares. 

O governo Dilma inspira confiança e esperança, com a emergência de setores médios e na elevação da autoestima do povo. O desafio maior do novo governo, entretanto, consiste em manter relativamente unida a ampla base política, heterogênea, em torno do avanço democrático, nacional e popular, em cujo centro esta o PT, e ser independente na formulação de uma política econômica que mantenha um crescimento acentuado e contínuo, voltada para os interesses nacionais e do povo. 

Duas grandes tarefas se colocam: 1) fortalecer a coalizão de governo, superando práticas hegemonistas e exclusivistas para o êxito da frente governista; 2) redirecionar a política macroeconômica, por uma orientação desenvolvimentista e de progresso nacional e social.


Publicado originalmente na Caros Amigos

Carta dos 100: a história da divisão dos comunistas em 2 partidos

Há 50 anos uma carta assinada por 100 comunistas protestou contra mudanças estatutárias realizadas pela direção partidária sem o aval de um congresso. Começava aí um processo que levou a cisão dos comunistas brasileiros em dois partidos. Apesar da idade, a carta em “Defesa do Partido” – ou a “Carta dos 100” –, mostra-se atual por resgatar os princípios marxistas-leninistas. Confira agora a coprodução da Fundação Maurício Grabois e da TV Vermelho.



Em 1956 dois eventos deram início ao processo de divisão dos comunistas no país: a posse de Juscelino Kubitschek como presidente do Brasil e a realização, em Moscou, do 20º Congresso do PCUS (Partido Comunista da União Soviética).

“A corrente nacionalista, burguesa, ganhou muita força [com a posse de JK]. Todo aquele projeto do Juscelino de desenvolvimento da industrialização do país já vinha influenciando dentro do partido [o PCB]”, conta Dynéas Aguiar, veterano comunista. 

Nesta época Krushov apresenta em Moscou seu relatório secreto contra Stálin. O documento cai como uma bomba no 20º Congresso do PUCS. O evento também inicia uma nova fase na história dos comunistas soviéticos, onde a linha reformista passou a dominar o partido.

Estes acontecimentos abriram uma grave crise no interior do movimento comunista mundial. Aqui se consolidaram duas tendências: uma reformista e outra revolucionária. Elas se confrontaram nos debates do 5º Congresso do PC do Brasil, em 1960.

Polêmicas

Em agosto de 1957, por resistirem às teses reformistas, João Amazonas, Maurício Grabois e Diógenes Arruda Câmara foram destituídos da Comissão Executiva do PCB. No início de 1958, a direção da época lança a “Declaração de Março”, adequando o PCB às diretrizes do 20º Congresso do PCUS. 

Começou aqui a consolidação de tendências dentro do partido: uma reformista e outra revolucionária dentro do partido. Neste processo, os que discordaram das teses apresentadas pela direção foram duramente atacados e acusados de formarem um grupo antipartido.

Por fim, devido ao domínio que tinha sobre a máquina partidária, a grande influência de Luís Carlos Prestes e o apoio recebido do PCUS, a linha reformista prevalece no 5º Congresso. Porém, os delegados também reconduzem João Amazonas, Maurício Grabois, Diógenes Arruda, entre outros dirigentes históricos, ao Comitê Central.

O golpe ao 5º Congresso

A situação parecia ter se normalizado com a vitória de Prestes sobre seus principais contendores. Até que em 11 de agosto de 1961, o jornal Novos Rumos, órgão oficial do PCB, publica os estatutos e o programa que seriam registrados no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). 

Entre as alterações estava a mudança do nome da organização, que passava a se chamar “Partido Comunista Brasileiro” no lugar de “Partido Comunista do Brasil”. Dos estatutos ainda se retirou qualquer referência ao internacionalismo proletário, ao marxismo-leninismo e ao objetivo final: o comunismo.

As motivações da Carta

Para os militantes descontentes, esta foi a gota d’água. Decidiram então enviar uma carta ao Comitê Central, assinada por cem militantes, exigindo que se retirassem os documentos do TSE ou se convocasse um novo congresso para discutir as mudanças. 

Segundo eles, “as mudanças feitas no nome, no programa e nos estatutos (...) objetivam o registro de um novo partido e, por isso, se suprime tudo o que possa ser identificado com o Partido Comunista do Brasil, de tão gloriosas tradições”. “Os militantes (...) não aceitarão que se liquide o velho partido, e a ele permanecerão fiéis, mantendo bem alta a bandeira de suas melhores tradições”, dizem trechos da carta.

Em resposta, a direção partidária começou a perseguir os principais autores da Carta dos 100. No final de 1961 e início de 1962, foram, sumariamente, expulsos João Amazonas, Maurício Grabois, Pedro Pomar, Carlos Danielli, Lincoln Oest, Ângelo Arroio, Calil Chade e José Duarte, entre outros.

Reorganização do PC do Brasil

Eles não aceitaram a decisão. Disseram que não poderiam ser expulsos de um partido ao qual nunca pertenceram: o PC Brasileiro. E se colocaram na tarefa de reorganizar o partido da classe operária: o PC do Brasil. Assim, em 18 de fevereiro de 1962, teve lugar na cidade de São Paulo uma conferência extraordinária do Partido Comunista do Brasil. 

O evento aparentemente modesto revestiu-se de uma grande importância histórica para a esquerda brasileira. Poucos ainda tinham consciência da importância daquele “ato fundador”. Para muitos, aquela parecia obra de alguns poucos sonhadores, sem grande futuro.

Hoje o PCdoB conta com mais de 250 mil filiados, está presente em inúmeros movimentos sociais, acumula vereadores, deputados estaduais, federais e senadores de diversos estados, além de prefeitos e um ministro. A História parece ter dado razão àqueles que resistiram à onda liquidacionista e se mantiveram fiéis aos princípios do marxismo-leninismo.

Da Redação do Portal Vermelho com a colaboração da Fundação Maurício Grabois.

Leia aqui a íntegra da Carta dos 100.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A crise do império.


Charge de Pelicano para o Bom Dia (SP)

#ForaRicardoTeixeira une as torcidas no Brasil inteiro

Nos estádios, torcidas pedem saída de Ricardo Teixeira, o Movimento contra o presidente da CBF toma conta da rodada do Brasileiro.


As torcidas prometeram e cumpriram. Neste domingo (28), houve protesto nos estádios do Brasil contra o presidente da CBF, Ricardo Teixeira. Os torcedores dos principais times do Campeonato Brasileiro distribuíram panfletos e levaram faixas e cartazes pedindo a saída do cartola do comando da entidade máxima do futebol nacional.

Todos os clássicos realizados às 16h contaram com manifestações pacíficas contra o dirigente. As torcidas abusaram da criatividade. No Gre-Nal, os colorados levaram letras que formaram o pedido de saída de Ricardo Teixeira. (foto ao lado)


No Engenhão, no duelo entre Flamengo e Vasco, muitos cartazes dos dois lados das arquibancadas apareceram, enquanto em Presidente Prudente, no confronto entre Palmeiras e Corinthians, a torcida alviverde fez lindo mosaico pedindo para que Ricardo Teixeira deixe a presidência da CBF.

Torcida do Palmeiras faz uma bonita festa pedindo o FORA TEIXEIRA
Todos juntos! #FORARICARDOTEIXEIRA
Para o bem do futebol brasileiro. Com Ricardo Teixeira não haverá copa do mundo!


PCdoB realiza Conferência em Tabira.

Esse domingo (28/08) foi bastante movimentado para os comunistas da cidade de Tabira, no Sertão Pernambucano. Foi realizada a 10ª Conferência Municipal do Partido Comunista do Brasil, que reuniu dezenas de lideranças para debater a resolução política e os próximos desafios do Partido no município, no estado e no Brasil.
Gustavo Barros, novo filiado ao PCdoB faz uma acalorada intervenção
A conferência aconteceu na câmara municipal e foi bastante ampla e representativa. Cerca de 60 militantes compareceram, o que corresponde a 50% dos filiados do município. Estiveram presentes: O vice-prefeito Joel Mariano, o Secretário de Agricultura Ridaylson Cipriano (Beliato) e o recém-filiado,  Gustavo Barros que é Secretário de Educação.

Eu, Ledilson e os camadas Joel Mariano e José (Dedé) Rodrigues (no centro)
A conferência foi conduzida pelo presidente municipal, José Rodrigues, que abordou sobre a importância histórica do PCdoB na vida do povo brasileiro e em especial, na vida da população Tabirense. Ao longo do debate, foram filiados 15 novos militantes. Entre eles, vários pre-candidatos a Câmara Municipal, um conselheiro tutelar, além de várias lideranças de associações e organizações da sociedade civil.

Foram eleitos 17 camaradas para compor o Comitê Municipal e 2 delegados a Conferência Estadual do PCdoB, que acontecerá na UNICAP dias 24 e 25 de setembro. Parabéns ao PCdoB de Tabira, que a cada dia se fortalece e ajuda a mudar a realidade da vida dos sertanejos! Firme na Luta.

Indico os Blog's:

http://tabiradetodos.blogspot.com/
http://www.tabiranoticias.com.br/
http://www.tabirahoje.com.br/

PCdoB realiza Conferência em Carnaíba

Dinho, do PCdoB-Caruaru junto a Luiz de Carnaíba
O PCdoB realizou ontem (29/08), a conferência municipal de Carnaíba, no Sertão do Pajeú. A conferência contou com a presença de vários filiados e debateu acerca do projeto de resolução politica do Comitê Estadual do PCdoB-PE. Estiveram presentes lideranças do movimento popular e vários pré-candidatos a câmara municipal de Carnaíba. Na ocasião foi eleita a nova direção partidária e os representantes á 17ª Conferência Estadual do PCdoB que acontecerá na Universidade Católica (UNICAP) dias 24 e 25 de setembro.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Clipes Rochedos: Vibrações Rasta - Exercito de Jah



Sexta-feira, dia bom pra curtir música boa! E a dica de hoje é a Banda alagoana Vibrações Rasta, que comemora 10 anos de carreira e mídia alternativa, lançando o DVD: "A Pedra que não foi polida". Vale a pena curtir o som desses guerreiros que fazem música de qualidade. Eles sempre foram excluídos pela grande mídia por sua classe social, cor de pele e região onde moram.

Bom final de semana galera!

terça-feira, 23 de agosto de 2011

UNE convoca #MarchaDosEstudantes, dia 31 de agosto, em Brasília




Fechando o Agosto Verde e Amarelo, UNE convoca estudantes para marcha pela defesa dos10% do PIB e 50% do fundo social do Pré-sal para educação

O mês de agosto será encerrado com um importante dia para o movimento estudantil: uma grande marcha, dia 31, em Brasília, reunindo estudantes de todo o país pela campanha #educacao10, para garantir 10% do PIB e 50% do fundo social do Pré-sal para a educação.

Milhares de jovens brasileiros estão se mobilizando e organizando caravanas rumo a capital do país para participar da grande marcha. Para o presidente da UNE, Daniel Iliescu, o Brasil vive momento único de oportunidades em diversas áreas e precisa se convencer de que é “necessário e urgente priorizar a educação em todas as suas etapas”.

“Vamos às ruas nessa jornada para tornar público o debate deste Plano Nacional de Educação que é tão decisivo. Precisamos envolver a sociedade para discutir a educação que queremos para os próximos dez anos”, explicou Daniel.


Agosto Verde e Amarelo

Durante o mês de agosto, a UNE, UBES e a ANPG viveram um período de fortes mobilizações, chamado de Agosto Verde e Amarelo para levantar as bandeiras de luta da UNE, 10% do PIB e 50% do fundo social do Pré-sal para educação.

As mobilizações começaram no dia 4 de agosto, quando a entidade participou de uma histórica passeata em São Paulo, junto a 80 mil trabalhadores das centrais sindicais pela redução da jornada de trabalhos para 40h. Durante a manifestação, Iliescu chamou os estudantes para as causas dos trabalhadores e ressaltou a importância de levantar e lutar pelas bandeiras do movimento estudantil.

Outro momento marcante do Agosto Verde e Amarelo foi a posse da nova diretoria da UNE, dia 10 de agosto, na Câmara dos Deputados, em Brasília, quando também foi comemorado o 74º aniversário da entidade (que acontece dia 11 de agosto). A solenidade reuniu a nova diretoria executiva da gestão e mais de 30 deputados, ministros, senadores e representantes de movimentos sociais como o MST, CUT, CTB e ANPG e o presidente do Conselho Nacional da Educação, Antônio Carlos Caruso Ronca. Na mesma ocasião, a UNE declarou apoio à greve da FASUBRA, por melhores salários para os professores.

A mobilização do movimento estudantil chegou ao Uruguai. Durante os dias 10 a 15 de agosto, a entidade levou ao país uma delegação de mais de 700 estudantes de todo o Brasil para participar do 16º CLAE, o maior fórum de discussão do movimento estudantil da América Latina.

O presidente da UNE, Daniel Iliescu, apresentou no congresso as bandeiras de luta da entidade e propôs uma Jornada Continental de Lutas em março de 2012, organizada pela OCLAE “A integração da América Latina é também a integração das nossas lutas.

No dia 16, a Marcha das Margaridas, em Brasília, contou, também, com a participação e o apoio da UNE. Trabalhadoras vindas de todos os cantos do país tiveram uma agenda intensa de atividades na capital do país.

Entenda os 50% do Fundo Social do Pré-Sal pra Educação

Sem um financiamento robusto, o desafio de qualificar a educação e democratizar o acesso fica cada vez mais distante. È assim que a UNE, em conjunto com outras entidades que compõem o movimento estudantil (A UBES e a ANPG), lançou em outubro de 2009 a campanha pelos 50% do fundo social do Pré-sal para educação.

Essa é a luta por um novo marco regulatório do petróleo brasileiro, que inclui a criação deste fundo social, e relaciona-se diretamente com a soberania e o desenvolvimento do país. A proposta de 50% foi aprovada pelo Congresso Nacional, mas vetada pelo poder executivo no final de 2010.

Nesse mês, dia 4 de agosto, aconteceu uma nova e importante vitória: o projeto de lei apresentado pelo senador Inácio Arruda (PCdoB-CE), venceu sua primeira etapa na tramitação no congresso ao ser na comissão de infra-estruturar do senado.

Entenda os 10% do PIB pra Educação

Somada à luta pelos recursos do Pré-sal, está a defesa da destinação de 10% do PIB para educação. Esta é uma das emendas que a UNE fez ao Plano Nacional de Educação, atualmente em tramitação no Congresso Nacional. O PNE traça as metas para a educação brasileira nos próximos 10 anos e, por isso, seu conteúdo terá impacto sobre toda uma geração de estudantes.

É no quesito financiamento que mora o principal problema do plano, que prevê ampliar gradualmente os recursos até atingir 7% em 2020. A UNE, em conjunto com outros setores do movimento educacional, luta para elevar o investimento em educação para 7% do PIB ainda em 2011, até, em 2014, atingir os 10%. “Somente com mais investimentos em educação é que vamos viver o novo Brasil que queremos, sem miséria e livre do analfabestismo”, explicou Iliescu.

É assim que a UNE lidera a bandeira “Educação 10”, para que se crie as condições para o investimento na educação em todos os níveis e permitir que esta área tão estratégica par ao desenvolvimento do país finalmente possa sanar a dívida histórica que possui com o povo brasileiro.

Para ler as 59 emendas do Plano Nacional da Educação (PNE) propostas pela UNE e pela UBES, acesse:

http://www2.camara.gov.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/cec/plano-nacional-de-educacao/PNEemendasUNEeUBES.pdf

Fonte: www.une.org.br

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

A UNE e as armas de 1961

Conhecida a notícia da inesperada renúncia do Presidente Jânio Quadros, na manhã de 25 de agosto de 1961, e noticiada a decisão dos ministros militares de impedir a posse do Vice-Presidente João Goulart, a UNE decretou greve geral e seu presidente recém-empossado Aldo Arantes seguiu para Porto Alegre.

Por Luiz Manfredini *


Foi juntar-se ao Governador Leonel Brizola, que comandava a reação ao golpe. Na época a entidade com maior capacidade de mobilização no País, a UNE lançou nas ruas da capital gaúcha e das principais cidades brasileiras, durante os dias dramáticos da resistência, vagalhões de estudantes. Somados a outros contingentes populares, eles foram decisivos na derrota do golpismo militar.

Aldo desembarcou em Porto Alegre acompanhado por seu assessor Herbert José de Souza, o Betinho. A cidade que ambos encontraram era uma praça de guerra. Cinquenta anos depois o cenário ainda é vivo na memória de Aldo. “Era uma paisagem e um clima de guerra civil, eu nunca tinha visto aquilo no Brasil”, lembra. Canhões antiaéreos pelas ruas, onde massas de povo marchavam para defender a cidade. 

O Palácio Piratini, onde Aldo e Betinho apresentaram ao Governador Leonel Brizola o apoio da UNE, estava cercado por sacos de areia, automóveis, jipes, bancos da Praça da Matriz, trincheira defendida por civis armados e milicianos da Brigada Militar. No topo, ninhos de metralhadoras. Para além das barricadas, o povo. Milhares de estudantes e trabalhadores aglomeravam-se em torno do palácio.

O que Aldo e Betinho não viram – mas saberiam mais tarde – é que a atmosfera de luta estendia-se por todo o Rio Grande do Sul. Os centros de tradições gaúchas, espalhados pelo Estado, arregimentavam o povo e o armavam com revólveres, espingardas e mesmo lanças e facões. Muitos desses gaúchos, com suas botas, bombachas e lenços no pescoço afluíam para Porto Alegre, preparados para a luta. Comitês de mobilização formaram-se entre estudantes e trabalhadores, intelectuais e artistas. Irreconciliáveis nos campos de futebol, Grêmio e Internacional se uniram em favor da luta.

De fato, o Governador Brizola erguera em armas todo o Rio Grande do Sul para garantir a posse do Vice-Presidente João Goulart. A mobilização contagiou mesmo os gaúchos que não haviam votado em Jango. Naqueles dias dramáticos, em que o País beirava a guerra civil, Aldo Arantes, aos 22 anos de idade, recém-empossado na Presidência da UNE, vivia a primeira das tantas provas que lhe reservaria sua extensa e efervescente vida política nos 50 anos seguintes.

Jânio: breve e controverso

Empossado na Presidência da República em 31 de janeiro de 1961, sete meses depois, na manhã de 25 de agosto, Jânio Quadros renunciou, acusando “forças ocultas” que, garantiu, inviabilizavam o exercício do seu mandato. O episódio nunca foi devidamente esclarecido, pairando até hoje a suspeita de que, com a renúncia, ele pretendia deflagrar um movimento popular por sua permanência com poderes excepcionais. Se esse foi mesmo seu objetivo, falhou. 

A breve passagem desse político extravagante, quase caricato pelo Palácio do Planalto tem sido lembrada mais pelas medidas excêntricas adotadas: a proibição das rinhas de brigas de galos, de espetáculos de hipnotismo e letargia em auditórios, de corridas de cavalos em dias úteis, de lança-perfume e do uso do biquíni em concursos de beleza pela televisão, entre outras esquisitices. Mas o que o conduziu ao impasse foi seu desprezo pelos partidos e pelo o jogo político-parlamentar e seu relativo isolamento da ortodoxia conservadora que pavimentou seu caminho rumo à Presidência. 

Se na política interna Jânio rezou pela cartilha conservadora, nas relações externas sua conduta “autônoma e independente” (assim ele próprio a definiu) afrontou os ditames da guerra fria, que estava no auge, e ligavam o Brasil aos interesses dos Estados Unidos. Reatou relações diplomáticas com a União Soviética, votou contra o isolamento de Cuba proposto pelos Estados Unidos, enviou missão especial e plenipotenciária aos países socialistas do Leste europeu, com os quais o Brasil ainda não mantinha relações e autorizou viagem exploratória do Vice-Presidente João Goulart à China. 

Ao Presidente argentino, Arturo Frondizi, chegou a sugerir a formação de um bloco dos dois países, autônomo e independente em relação aos Estados Unidos, mas sem alinhar-se com o bloco soviético. Era entusiasta do Movimento dos Países não Alinhados, liderado pelo Presidente da Yugoslávia, o ex-guerrilheiro Joseph Broz Tito, cuja foto mantinha à vista de todos em seu gabinete no Planalto. Por fim, num gesto terminal, condecorou o líder cubano Ernesto Che Guevara com a Ordem do Cruzeiro do Sul. Era o dia 19 de agosto de 1961.

Havendo renunciado, os ministros militares vetaram a posse de Jango por se tratar de “um comunista”. Expediram ordem para prendê-lo logo ao desembarcar.

Às armas, cidadãos!

O homem que Aldo Arantes encontrou no Palácio Piratini, comandando a resistência legalista de metralhadora na mão, “era muito determinado, firme, sabia o que queria e exercia uma liderança muito forte no Estado”. Ainda novo, cheio de energia, Leonel Brizola transformou-se numa grande liderança nacional ao anunciar, na madrugada de domingo, 27 de agosto de 1961, pelas rádios Guaíba e Farroupilha, sua disposição de resistir ao golpe, à bala se necessário. E convocava o povo a segui-lo. E os gaúchos o seguiram.

Brizola mandou a Brigada Militar ocupar as rádios Guaíba e Farroupilha e a Companhia Telefônica, de modo que passou a dominar todas as comunicações em Porto Alegre. Controlou o movimento da Varig, requisitou três mil revólveres calibre 38 da fábrica de armas Taurus e estabeleceu um posto de recrutamento de populares para a resistência na Avenida Borges de Medeiros, um prédio em formato de mata-borrão, por isso assim apelidado. Em apenas cinco dias, 45 mil pessoas se inscreveram no Mata-borrão e entraram em filas para receber armas e treinamento. 

Um dos líderes dessa mobilização popular era João Amazonas, então dirigente principal do Partido Comunista do Brasil (na época ainda PCB) no Estado. De fora, o movimento recebeu o apoio solitário de um só governador: Mauro Borges, de Goiás. Mas as ruas do Brasil estavam com a resistência gaúcha, que era uma resistência brasileira. E isso encurralou os militares golpistas.

Na manhã do dia 28 de agosto, por intermédio do General Orlando Geisel, o Ministro da Guerra ordenou por rádio ao comandante do III Exército, General José Machado Lopes, que contivesse Brizola, usando para tanto toda a tropa disponível no Rio Grande do Sul e a que mais necessitasse de outros pontos do País, inclusive empregando a Aeronáutica para bombardear o Piratini, caso isso fosse necessário. A resposta de Machado Lopes foi lacônica: “Cumpro ordens dentro da Constituição vigente”. E abandonou a sala. Dirigindo-se ao Piratini, comunicou a Brizola que o III Exército – antes expectante - aderia formalmente ao movimento de resistência ao golpe e pela posse imediata do Vice-Presidente João Goulart.

Aos 61 anos, Machado Lopes não tinha nada de esquerdista. Seu currículo era conservador, de liberal-cristão anticomunista, incluindo oposição ao tenentismo (movimento progressista dos militares nos anos 20) e à sua manifestação mais contundente, a coluna Prestes, além do combate armado contra a insurreição comunista de 1935. Sob suas ordens estavam 120 mil homens no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, então o maior contingente do exército brasileiro. “O apoio do comandante do III Exército foi uma das razões pela quais a luta pela legalidade terminou tendo êxito”, comenta Aldo.

A UNE nas ruas

Aldo Arantes passava os dias no Piratini, articulado com o comando legalista. Saía apenas para ajudar na mobilização dos estudantes gaúchos, dirigidos pela Federação dos Estudantes Universitários do Rio Grande do Sul (FEURG), que jogou papel essencial na resistência. Realizavam passeatas, debatiam nas assembléias gerais, Foram os estudantes que arrancaram os bancos da Praça da Matriz para reforçar as barridas em torno do palácio. Na carroceria de caminhões, chegavam às para a concentração em torno do palácio.

Como o Ministro da Guerra ordenara o lacre dos cristais de várias emissoras de rádio de Porto Alegre, Brizola mandou transferir para os porões do Piratini os transmissores da Rádio Guaíba. Tinha início a Cadeia da Legalidade, transmitindo 24 horas mensagens de resistência para todo o Brasil e também para o exterior. A única música transmitida era o Hino da Legalidade, composto por Paulo César Peréio. As principais alocuções eram 
do entusiasmado Governador gaúcho, dirigindo-se ao povo brasileiro, e de Aldo Arantes que, em nome da UNE, relatava aos estudantes brasileiros a evolução dos acontecimentos, apresentava diretivas de ação, conclamando à mobilização. Em várias capitais os estudantes eram convocados para ouvir, nas praças públicas, a palavra do Presidente da UNE.

O povo na rua mudou o curso dos acontecimentos. Na Base Aérea de Canoas, sargentos furaram os pneus e desarmaram os aviões que, sob ordens do Ministro da Aeronáutica, deveriam bombardear o Palácio Piratini. Em todo o Paraná, os quartéis do III Exército ficaram com a legalidade. A exceção foi Santa Catarina, onde a base da Marinha aderira aos golpistas, abastecendo os navios que seguiram para sufocar o movimento legalista. Mas acabou isolada.

Jango: a volta e a posse

A renúncia de Jânio Quadros pegou de surpresa o Vice-Presidente João Goulart, que estava em Singapura, retornando de viagem oficial realizada à China. Enquanto Jango cumpria um retorno intencionalmente demorado ao Brasil (Singapura, Paris, Nov York, Buenos Aires, Montevidéu e, finalmente, Porto Alegre), gestava-se no Congresso a solução intermediária e conciliatória para sua posse: a adoção do parlamentarismo, que transferia para o Congresso e o Presidente do Conselho de Ministros boa parte das prerrogativas presidenciais. 

Jango desembarcou em Porto Alegre no dia 1o de setembro à noite. O jovem Aldo Arantes estava no Palácio Piratini quando o Vice-Presidente chegou acompanhado por Brizola, sob o cerco de uma entourage afobada e barulhenta. O clima, no entanto, não era só de festa. Naquele instante, era mais tenso que festivo. Aldo não presenciou, mas soube de uma discussão áspera, em reunião reservada, entre Jango e Brizola. O governador insistia em não aceitar o acordo parlamentarista. Mas o virtual Presidente já o havia acatado. 

O homem que Aldo Arantes viu sair na sacada do Palácio Piratini estava calmo, afável, embora cansado. E acenava para a multidão. A ovação que recebeu, ribombando pela Praça da Matriz e cercanias, não ocultou, entretanto, vaias aqui e ali dos que, como Brizola, resistiam à solução parlamentarista. Alguns desses chegaram a atear fogo às faixas e cartazes com o nome de Jango e gritar: “Covarde! Covarde!”. Mas a ovação foi soberana.

Jango embarcou para Brasília no dia cinco de setembro, a bordo de um Viscount da Varig. Em outro aparelho, Aldo Arantes, Betinho e os membros da comitiva oficial. Soube-se, mais tarde, que oficiais extremistas da aeronáutica pretendiam abater o avião que transportava Jango. Mas qual dos dois seria abatido, ou seriam ambos? Era a chamada “Operação Mosquito”, que afinal foi abortada. Aldo e Betinho desembarcaram no aeroporto de Viracopos, em Campinas.

João Goulart foi empossado como Presidente da República no dia sete. Brizola não o acompanhou, nem participou das solenidades. Ao discursar no Congresso, “Jango fez uma menção rápida ao governador gaúcho e o movimento da Legalidade, sem citá-lo pelo nome com que ficara conhecido”, segundo relato do jornalista Flávio Tavares. Tancredo Neves, Deputado Federal pelo PSD mineiro, foi escolhido Primeiro-Ministro. No Ministério, nenhum nome do Rio Grande do Sul. 

Aldo Arantes e Leonel Brizola desenvolveram, na breve, porém intensa luta democrática de agosto de 1961, profundos laços de afeto. “Fomos amigos para o resto da vida”, diz Aldo. E lembra que, findo o movimento e ao se despedir do Governador gaúcho, dele recebeu um revólver Rossi 38 “como símbolo da resistência”. Do presente, ficou apenas a lembrança. “Infelizmente, durante a ditadura militar, eu dei este revólver para um sujeito que estava na luta armada”. 

“A mobilização dos estudantes foi tão forte, tão decisiva para o sucesso da resistência que, dias depois da posse, o Presidente João Goulart e todo seu ministério visitaram a sede da UNE para agradecer”, lembra-se Aldo. “Foi um ato marcante”, diz, “pois pela primeira vez um Presidente da República ia à sede da UNE”. Somente 40 anos depois outro Presidente esteve por lá: Luiz Inácio Lula da Silva, eleito em 2002.

Imediatamente após a posse de Jango, a direita militar e civil, embora derrotada, continuou a conspirar, organizada, sobretudo, no secreto Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais (Ipes) e no Instituto Brasileiro de Ação Democrática (Ibad) que, entre outras iniciativas, financiava a eleição de candidatos anticomunistas. Começava, sub-repticiamente, a ser escrita a história do golpe de 1964

* Manfredini é jornalista e escritor em Curitiba, integra o Conselho Editorial da revista Princípios, representa no Paraná a Fundação Maurício Grabois e é autor de As moças de Minas (1989/2008) e Memória de Neblina, a ser lançado este ano.

domingo, 21 de agosto de 2011

Líbia: Rebeldes avançam até Trípoli; Kadafi diz que fica até o fim


O líder da Líbia, Muamar Kadafi, afirmou neste domingo (21), em meio à aproximação das forças rebeldes e a bombardeios da Otan, que ficará em Trípoli "até o fim". Em um pronunciamento de áudio transmitido pela TV estatal, Kadafi pediu que seus apoiadores em todo o país ajudem a liberar a capital da ofensiva rebelde, e afirmou que sairá vitorioso da batalha. 

Kadafi disse sentir “temor de que Trípoli seja queimada” e afirmou que cederia armamento a seus seguidores para que lutem contra os opositores. Os rebeldes líbios, em coordenação com a Otan, atacam desde a madrugada deste domingo os arredores da capital líbia, con o objetivo de avançar e forçar a derrubada do presidente. Também foram lançadas bombas sônicas, que aterrorizaram a população civil.

Algumas agência noticiaram que grupos rebeldes teriam tomado o controle de um quartel às portas da capital do país. Um grupo de 200 rebeldes teria chegado à cidade neste domingo em barcos, vindos da cidade de Misrata. A imprensa noticia que os insurgentes encontram forte resistência das tropas leais a Kadafi.A expectativa dos rebeldes era chegar à cidade, último reduto importante de Khadafi no país, neste domingo à noite. 

Ao mesmo tempo, os aviões da Organização do Tratado do Atlântico Norte bombardearam o quartel-general do líder líbio e o aeroporto de Maitika, também na capital do país, informaram a rede de televisão Al Jazeera e a rede multiestatal TeleSur. O correspondente da TeleSur confirmou que rebeldes e Otan empreenderam uma ação "coordenada" contra a capital. 

O avanço dos rebeldes ocorre por diversas frentes, com o apoio aéreo e marítimo das forças da organização. Segundo um porta-voz do grupo, Ahmed Jibril, a ação, batizada de Operação Sereia, poderá durar vários dias.

O governo pede à Otan e à comunidade internacional que impeça o derramamento de sangue. Na mesma direção das palavras de Kadafi, no sábado, seu filho Saif al Islam declarou que nem ele nem seu pai abandonariam o país.

Diálogo

A Otan e seus aliados se negam a um cessar fogo, apesar da disposição do governo de dialogar. O porta-voz líbio, Musa Ibrahim, pediu, neste domingo, aos insurgentes que lutam pelo controle do poder no país para negociar mas, ao mesmo tempo, garantiu que há “milhares e milhares de soldados preparados para defender [a capital da Líbia] Trípoli” do avanço rebelde. 

Em uma entrevista coletiva divulgada pela Al Jazeera, Ibrahim acusou a Otan de “causar o caos” com os bombardeios das cidades líbias. O porta-voz disse ainda que os líderes norte-americano, Barack Obama, britânico, David Cameron, e francês, Nicolas Sarkozy, são os “responsáveis morais por qualquer morte desnecessária”. 

Ibrahim lançou ainda um alerta à comunidade internacional para uma possível “vingança” dos rebeldes, muitos dos quais, segundo ele, sem um projeto político e que atuam pela “sede de vingança e de sangue”. Acusou ainda as forças rebeldes que tentam derrubar o líder líbio de promover execuções sumárias em localidades como Gharian, nos arredores de Trípoli. 

“Os crimes mais comuns [dos rebeldes] são as execuções, o roubo, o incêndio de casas, a violação e a tortura”, cometidos "debaixo da responsabilidade do Ocidente e da Otan", acrescentou. “O mundo não pode dizer que não foi avisado”, reiterou, acrescentando que “Trípoli está bem protegida por milhares de soldados preparados para defender a cidade dos rebeldes, que não são nada sem a Otan”.

Liga Árabe

Em um comunicado difundido depois de uma reunião de urgência, o aparato jurídico da Liga Árabe rechaçou as operações militares da Otan na Líbia, que representam uma “ingerência estrangeira” no país. O organismo também pediu a retirada de Kadafi.

fonte: www.vermelho.org.br

Audaciosa crítica de Raul Seixas à submissão da elite brasileira

Considerado um dos pioneiros do rock brasileiro, o baiano Raúl Seixas passou maus bocados por sua arte contestadora e, por vezes, um tanto mística. Coisas de artista. Neste domingo (21), completam-se 22 anos de sua morte, mas sua legião de fãs não para de crescer.

Por Marcos Aurélio Ruy

Com mais de 20 anos de carreira, chamado por muitos de o “pai do rock brasileiro”, Raul Seixas emplacou inúmeros sucessos na música popular brasileira ao misturar baião - inspirado principalmente em Luiz Gonzaga- e rock, sob inspiração dos anos 1950, principalmente por Little Richard, o som meio anárquico de Frank Zappa e a revolução chamada Beatles, essencialmente John Lennon. Foi muito influenciado ainda pelo místico inglês Aleister Crowley, que pregava “faze o que tu queres, há de ser tudo da lei”.

Nessa miscelânea de sons e temas, Raul lança seu primeiro disco, Raulzito e Os Panteras, em 1968, não emplaca nas paradas, mas já mostra sua cara irreverente e tenaz na crítica ao sistema. Ao aproximar-se da Jovem Guarda, participa de um disco intitulado “Vida e Obra de Johnny McCartney”, com Leno, da dupla Leno e Lilian, que tem as letras censuradas e o disco acabou por não ser lançado. 

Distancia-se da Jovem Guarda com sua arte contestadora, de forte apelo social e crítico à ditadura e ao capitalismo. Sofre forte censura do regime militar de 1964, cria a Sociedade Alternativa, com música homônima, e os militares pensam tratar-se de grupo guerrilheiro. É preso, torturado e obrigado a sair do país, juntamente com o atual escritor místico Paulo Coelho, seu parceiro em inúmeras canções. 

Raul Seixas critica com veemência a escola e diz em entrevista “nunca aprendi nada na escola. Minto. Aprendi a odiá-la” e complementa com a afirmação de que “tudo o que aprendi era nos livros, em casa ou na rua.” Isso numa época em que até a escola estava sob o crivo da ditadura. 

Em 1971 lança, sem autorização da gravadora, o disco “Sociedade Grã-Ordem Apresenta Sessão das Dez”. O disco some misteriosamente do mercado e Raul é expulso da multinacional CBS. No ano de 1982, ao aparecer embriagado e sem documentos para um show em Caieiras (SP), é confundido e torna-se “impostor de si mesmo”, quase é linchado pelo público, preso e espancado pelos policiais.

Esse ar de irreverência esteve presente em toda a sua obra. Com críticas mordazes à falta de liberdade e aostatus quo. Na canção “Como Vovó Dizia” ele afirma: “quem não tem colírio usa óculos escuros, quem não tem filé como pão e osso duro, quem não tem visão bate a cara contra o muro.” Precisa ser mais claro? Também em “Ouro de Tolo” fala da tentativa de “pão e circo”, uma tese propalada pela burguesia para conformar o povo sem contestação.

Também esteve nas paradas canções com “Tente Outra Vez”, “O Dia em que a Terra Parou”, “Mosca na Sopa”, “Metamorfose Ambulante”, “Gita”, “Al Capone”, Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás”, “Sapato 36”, forte crítica ao patriarcalismo, e "Aluga-se”, na qual propõe alugar o Brasil para resolver os dilemas do país, cruciais ao povo brasileiro sob o obscurantismo fascista. Um dos seus maiores sucessos, porém, é “Maluco Beleza”, verdadeiro hino dos hippies brasileiros dos anos 1970.





Lança o disco “A Panela do Diabo”, em 19 de agosto de 1989, dois dias antes de sua morte, juntamente com o discípulo Marcelo Nova. Raul é encontrado morto em seu apartamento em São Paulo aos 44 anos.

Sucumbiu às drogas, ao alcoolismo e à diabetes. Tem sua arte, no entanto, viva na memória de uma enorme legião de fãs de todas as faixas etárias e sua contestação tornou Raul Seixas sem similar e sem substituto. Apresenta uma visão audaciosa dos costumes e da submissão da elite brasileira aos ditames imperialistas.


quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Dilma anuncia expansão da rede educacional com novas universidades

Um dos compromissos de campanha à Presidência da República saiu do papel e começa a ganhar forma com o anúncio do plano de expansão da Rede Federal de Educação Superior e Profissional e Tecnológica. Assim, o país irá ampliar ainda mais a oferta de vagas em universidades e institutos federais até 2014.

O plano – apresentado no Palácio do Planalto, nesta terça-feira (16), em cerimônia que atraiu ministros, governadores, prefeitos e educadores – teve a comemoração da presidente Dilma Rousseff, que o classificou como o início de uma nova etapa da educação brasileira.Hoje nós demos inicio a uma nova etapa de expansão. É grande a minha satisfação, pois torno realidade um compromisso assumido na minha campanha à Presidência da República”, disse a presidente Dilma, para em seguida recordar que foi no governo do ex-presidente Lula e do ex-vice-presidente José Alencar, que não tiveram formação universitária, que começou o processo de construção de campi de universidades e escolas técnicas.

Dilma Rousseff apresentou os números do plano de expansão para ilustrar os avanços no setor educacional. Ela lembrou que o país chegará ao fim de 2014 com duas vezes e meia o número universidades. Nos próximos anos, serão criadas quatro novas universidades federais, abertos 47 novos campi universitários e 208 novos Ifets, disse a presidente.

“Os números falam por si. Nos próximos quatro anos, meu governo entregará 208 novos Ifets. Quando chegarmos em 2014, o Brasil terá 500 Ifets. É um número muito importante para o país, que não quer mais ser um país aquém do potencial da população”, destacou.

A presidente destacou também outro ponto: levar o ensino técnico e universitário para o interior do país, como meio de promover o desenvolvimento de cada região. As novas universidades federais serão instaladas no Pará, na Bahia e no Ceará.

A Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) terá sede na cidade de Marabá; já a Universidade Federal da Região do Cariri (UFRC), no Ceará, terá sede em Juazeiro do Norte.

O estado da Bahia ganha duas instituições: a Universidade Federal do Oeste da Bahia (Ufoba), com sede em Barreiras, e a Universidade Federal do Sul da Bahia (Ufesba), que terá sede em Itabuna.

Ainda no discurso, a presidente Dilma lembrou que os instituto federais contam atualmente com 600 mil alunos. Ela comentou também sobre o esforço do governo federal em combinar a oferta e vagas públicas em universidades privadas por meio do ProUni. Deste modo, alunos de famílias carentes podem cursar a rede privada de ensino superior. Porém, a presidente esclareceu que se os antecessores tivessem feito a expansão da oferta de universidades e escolas técnicas o país estaria num posto mais avançado.

Dilma Rousseff pediu apoio dos parlamentares para aprovação do Pronatec, proposta já enviada ao Congresso Nacional. “Falo aqui também do Pronatec. Peço aos parlamentares que nos ajudem na aprovação do Pronatec. É aquele programa de ensino médio que introduz na educação brasileira um momento decisivo que é a formação técnica e profissional. Vai significar para o Brasil aumento de melhora da qualidade do emprego”, destacou.

A presidente comentou também sobre o programa Ciência sem Fronteiras, que colocará à disposição 75 mil bolsas de estudo, com recursos federais, em universidades no exterior. Ela previu também outras 25 mil bolsas custeadas pela iniciativa privada. No final, destacou o momento pelo qual o Brasil atravessa que irá exigir mais investimentos, seja em infraestrutura, seja na formação dos jovens brasileiros, e descartou qualquer risco de contágio por parte de outros países que enfrentam crises financeiras e onda de protestos.

Recursos

O ministro da Educação, Fernando Haddad, informou que o plano prevê investimentos de cerca de R$ 7 milhões para cada unidade de Ifet, e entre R$ 15 milhões e R$ 20 milhões para implantação dos campi em cada município. Haddad concedeu entrevista coletiva após a solenidade.

Sobre a votação no Congresso Nacional do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), o ministro disse acreditar que as lideranças parlamentares “estarão sensíveis em relação a esse projeto que é imprescindível para o desenvolvimento nacional”.

Vídeo Institucional do Governo Federal

Dilma e o presente - Entrevista à revista Carta Capital

Os gravadores ainda estavam desligados, a conversa versava sobre artes plásticas, quando Dilma Rousseff por um instante, pensou em outra vida: "Vocês sabem que eu gostaria de ter sido pintora, não?" Quase no fim da entrevista, ela voltaria ao tema, um de seus preferidos, ao mostrar um livro sobre um grupo de sete pintores canadenses do começo do século passado, sua distração do momento. 

Dilma e o presente - Entrevista à revista Carta Capital
Presidente Dilma durante visita à estação de teleférico do Morro do Alemão (RJ).

No mais, a presidenta aparentava bom humor. E não havia um motivo específico para tanto. Ao contrário. A terça-feira 9 seria mais um daqueles dias em que o Palácio do Planalto se veria obrigado a reagir à contingência. Logo no raiar do dia, a Polícia Federal havia prendido 36 suspeitos de participar de um esquema de corrupção no Ministério do Turismo, entre eles o secretário-executivo da pasta. 

A operação soma-se a uma profusão de denúncias que culminaram na queda de António Palocci, na faxina nos Transportes e nas demissões na Agricultura. Com resultados agora medidos sobre a aprovação da presidenta e de seu governo. Segundo pesquisa Ibope divulgada no dia seguinte, a popularidade de Dilma recuou 6 pontos percentuais em relação à última medição. O mesmo se deu com o apoio à administração.

No flanco econômico, as bolsas de valores davam uma pequena trégua, mas prenunciavam os próximos dias de terror com o aprofundamento da crise econômica na Europa e o rebaixamento dos títulos da dívida dos Estados Unidos. 

"A situação mudou e o Brasil será obrigado a reagir de forma diferente à nova realidade", afirmou Dilma, sem informar se a mudança em curso significa interromper a alta dos juros para conter uma inflação que já não mostra mais o ímpeto do primeiro semestre. "Pode ser exigido de nós um grande esforço."

A entrevista, em uma antessala do gabinete presidencial, precedeu uma reunião sobre o modelo de concessão de aeroportos a ser adotado pelo governo. Durante a conversa, que durou um pouco mais de uma hora, a presidenta negou que a nomeação de Celso Amorim para a Defesa tenha causado desconforto nas casernas ("Não estamos mais na época das vivandeiras"), afirmou que estádios e aeroportos estarão prontos a tempo para a Copa 2014, expressou-se de forma distante sobre Ricardo Teixeira e garantiu que a Comissão da Verdade será instalada. 

E revelou seu novo projeto na área de saúde, definido por ela como sua mais nova "obsessão": a adoção do home care, atendimento de saúde em casa nos moldes existentes no Reino Unido e nos EUA. "É mais barato, é melhor para as pessoas e pode ser feito em escala maior com um custo fixo muito pequeno e com um custo variável interessante."

A entrevista será publicada em duas partes. A próxima sairá na edição especial 660, que chega às bancas em São Paulo na sexta-feira 19.

CartaCapital: Aquela simpatia inicial da mídia em relação à senhora parece ter passado. Há as denúncias de corrupção, que precisam ser investigadas, mas há também essa tentativa de criar uma tensão do nada, como no caso da nomeação de Celso Amorim para a Defesa. 
Dilma Rousseff: O que acho complicado no Brasil é que os problemas reais perdem espaço para os acessórios, ou para os que não são reais. Isso é muito ruim, porque há uma tendência de as pessoas se importarem mais com o espetáculo do que com a realidade cotidiana das coisas. É normal, talvez por isso, inclusive, que todos gostemos de folhetins. Não posso ficar reclamando. Agora, essa relação com a mídia, não sei se ela não é assim em todos os governos, desconfio que...

CartaCapital: Em todos os governos do Brasil ou do mundo? 
DR: Do mundo. Você tem uma relação contraditória com a mídia. Veja o que ocorre, por exemplo, nos Estados Unidos, entre a Fox e o Obama. E há essa coisa horrorosa que é o News of the World na Inglaterra. Não acho que eu seja tratada da mesma forma por todos os jornais. Têm grupos de mídia mais suscetíveis a encarar as transformações pelas quais o Brasil passa e têm outros menos suscetíveis. Não acho que o governo deva se pautar por isso, pela mídia. Isso não significa não dar importância. Dou importância e tenho obrigação de responder e levar em consideração as demandas. Agora, não vou gastar nisso todo o meu tempo, que é político. Tenho de gastar meu tempo tratando dos assuntos que resolvem problemas do País.

CartaCapital: Mas nas últimas semanas, a começar pela crise nos Transportes até a mais recente, na Agricultura, o seu governo parece apenas reagir a uma série de denúncias de corrupção publicada pela mídia. 
DR: Afastamos as pessoas quando achamos que o caso era grave. Não acho que somos pautados pela mídia em nenhum desses casos. Nem na história dos Transportes, nem da Agricultura ou de qualquer outro caso que por ventura ocorra, não temos o princípio de ficar julgando as pessoas, fazendo com que elas provem que não são culpadas. Somos a favor daquele princípio da Revolução Francesa, muito civilizado, que cabe a quem acusa provar a culpa de quem é acusado. Mas não acho que o governo deva abraçar processos de corrupção. Por razões éticas, mas também por conta de outro fator: um governo que se deixa capturar pela corrupção é altamente ineficiente. É inadmissível diante de tão pouco dinheiro que temos para fazer as coisas. Então, por uma questão não só ética e moral, mas de eficiência, você é obrigado a tomar providência.

CartaCapital: Falemos da nomeação de Celso Amorim. Essa história de que as casernas estão irritadas com a nomeação dele... 
DR: É relevante?

CartaCapital: É relevante? 
DR: Não acho. Primeiro, porque não estamos mais na época das vivandeiras. As Forças Armadas são disciplinadas, hierarquizadas e cumprem seus preceitos constitucionais. Estão subordinadas ao Poder Civil e é assim pelo fato de a sociedade brasileira ter evoluído nessa direção. Não é uma conquista do governo ou da mídia, é da sociedade brasileira. Agora, se há setores, absolutamente minoritários, entre os militares ou na mídia que assim pensam, é irrelevante, faz parte do passado, de uma visão atrasada da História. Outra coisa muito grave, aquém da realidade, é achar alguém insubstituível. As pessoas têm de ter a humildade de perceber que não são insubstituíveis, a gente descobre isso quando criança, principalmente se você perde algum parente importante, como o pai ou a mãe, cedo. 

Além disso, nem na época da monarquia o rei era insubstituível, havia aquela história dos dois corpos do rei, o divino e o humano. O rei morreu, viva o novo rei. O tempo é o senhor desse processo e tenho certeza de que o Celso Amorim vai demonstrar uma grande capacidade de gestão, vai levar à frente a nossa Política Nacional de Defesa e vai fortalecer e modernizar as Forças Armadas. Vamos discutir daqui a um ano. Tem gente que olha para o passado. Eu olho para o futuro. 

CartaCapital: A senhora já refletiu, fez alguma interpretação, sobre o comportamento do ex-ministro Nelson Jobim? 
DR: Ah, não faço nenhuma interpretação. É uma página virada, não temos de ficar discutindo. Isso pode até ser interessante para a mídia, mas para o governo não é.

CartaCapital: Acompanhei as suas declarações recentes sobre a crise. A senhora disse que o Brasil está mais preparado do que em 2008. É isso? 
DR: Você me ouve e eu te leio, viu Belluzzo (risos). Vivemos um momento que ninguém da nossa geração imaginou viver. Jamais pensei na minha vida que eu veria uma agência de classificação de risco rebaixar a nota dos títulos dos Estados Unidos. Fiquei perplexa. De uma certa forma, tirando um aspecto um tanto irônico da situação, não acho que essa agência (Standard à Poor's) seja muito responsável ou tenha tomado uma decisão fundamentada. Não houve nenhuma grande alteração, a não ser política, que justificasse. De qualquer forma, isso indica muito o momento que o mundo vive, no qual há duas coisas incontestáveis.

CartaCapital: Quais? 
DR: Temos uma crise profunda, que, como todos sabem, não foi produzida pelos governos. Deve-se a uma crise do mercado financeiro, da sua desregulamentação, com aquiescência, aí sim, do poder público. Ontem, por acaso, estava com dificuldade de dormir e voltei a assistir ao documentário Inside Job, um filme que todo mundo deveria assistir. É impressionante como, por meio dos depoimentos, o absoluto descontrole fica patente. 

E em vez de tomarem medidas cabíveis para retomar as condições de crescimento, encheram os bancos de dinheiro outra vez, mantiveram a desregulamentação, continuaram com o processo de descontrole e agora a crise se exprime de forma muito forte na Europa. Há duas utopias apresentadas como possíveis. Há aquela americana, a solução dos republicanos, que acham ser possível sair de uma das maiores crises, gerada não pelo descontrole dos gastos públicos, diminuindo o papel do Estado. Nesse debate há a tentativa dos republicanos de reduzir a nada o Estado. Não se recupera uma economia desse jeito.

CartaCapital: E a outra? 
DR: Tem uma segunda utopia vendida lá na Europa. É a seguinte: é possível a gente ter uma união monetária em que a economia central, ou as economias centrais, se beneficiam de uma única moeda, estruturam um mercado, vendem os seus produtos para esse mercado e não têm a menor responsabilidade fiscal, punindo seus integrantes quando eles entram em crise, também provocada pelo nível de empréstimo dos bancos privados. Há um sujeito oculto engraçado, um Estado supranacional com uma política fiscal comum para socorrer os integrantes e não deixar, por exemplo, que a Grécia não tenha outra saída a não ser matar seus velhinhos, atirá-los do penhasco, que era o que acontecia antes, ou acabar em uma redução brutal dos salários e das pensões. Agora, com a Itália e a Espanha, o problema ficou mais complexo, entra em questão a União Europeia. Parece, lendo os jornais europeus, que as ofertas de socorro são poucas e chegaram tarde. São duas utopias muito graves, porque, como disse o Belluzzo, é mais do mesmo e uma tentativa de responder à crise com aquilo que a causou. Em vez de mudar o roteiro da pauta, responde-se com o que a causou. Agora, o Brasil tem de reagir a essa situação.

CartaCapital: Como? 
DR: Todas as situações são inusitadas, não são aquilo que ocorreu no passado. O momento agora não é igual ao de 2008 e 2009. Temos um problema sério, porque os EUA podem ir para o quantitative easingS (emissão de dólares) e aí eles vão inundar este nosso País. Não tem para onde ir e então eles virão para os mercados existentes, ou seja, nós. 

Como disse a ministra da Indústria da Argentina, virão para um mercado apetecible. Somos apetecibles, acho que o espanhol tem essa capacidade sonora de às vezes mostrar quão apetecibles somos. Começamos a tentar uma política bastante clara no sentido de conter esses avanços quando o governo colocou aquela tributação sobre os derivativos, porque sabemos que o efeito disso é a entrada aqui, ela se dá por essa arbitragem dos juros.

CartaCapital: Mas o que se pode fazer? Começar a baixar os juros? 
DR: Não vou te dizer qual é a nossa receita, porque, se fizer essa antecipação, cometerei um equívoco político e econômico. Vamos, o governo, olhar a partir de agora de uma forma diferente essa situação que vem pela frente, porque é algo distinto. Não estamos mais na mesma situação de antes, nem sabemos direito o que vem, mas estamos com abertura suficiente para perceber que pode ser exigido de nós um grande esforço para conter isso. De outro lado, percebemos que, além de tudo, há o fato de que a indústria manufatureira no mundo está com uma grande capacidade ociosa, procurando de forma urgente mercados, e que somos esse mercado. Não vamos deixar inundar o Brasil com produtos importados por meio de uma concorrência desleal e muitas vezes perversa. Vamos fazer uma política de conteúdo nacional com inovação, a mesma que aplicamos em relação à Petrobras e que deu origem à encomenda de estaleiros novos produzidos no País. Também vamos olhar o efeito da crise por setor, porque ele é assimétrico. Alguns são mais prejudicados que outros. Os mais afetados receberão estímulos e proteção específicos. Haverá uma política de defesa comercial, além da continuidade de nossas políticas sociais e de estímulo ao investimento e ao consumo. Hoje (terça-feira 9), por exemplo, ampliamos o Supersimples. Fizemos uma grande isenção tributária que beneficiará um universo muito grande de empresas. Teremos ainda uma política de incentivo à exportação por meio do Reintegra, uma novidade. Nunca tínhamos feito nessa escala. Sabemos que isso é só um início e estamos abertos a todas as outras hipóteses de trabalho, vamos acompanhar de forma pontual. É como se diz no futebol, marcação homem a homem. Aqui também será marcação mulher a mulher e de todos os jeitos possíveis (risos).

CartaCapital: Falemos um pouco da Copa de 2014. Por que as coisas não estão andando como deveriam?
DR: Gostaria de entender por que isso.

CartaCapital: Por que achamos isso? 
DR: Baseados em quê? 

CartaCapital: As obras estão lentas, outras foram paralisadas... 
DR: Quais?

CartaCapital: Estádios... 
DR: Vivemos em uma democracia. Temos o Judiciário, o Legislativo e o Executivo.

CartaCapital: Há outro motivo. 
DR: Qual?

CartaCapital: A Fifa é uma organização mafiosa e o nosso líder futebolístico fica muito bem dentro desse panorama. 
DR: Quem é o nosso chefe?

CartaCapital: O Ricardo Teixeira. 
DR: Do governo ele não é. 

CartaCapital: Do futebol. Há quem diga que a senhora não o recebe. 
DR: Recebo sim, são relações institucionais. Mas voltemos às obras. É preciso fazer uma diferença: as obras essenciais e aquelas que serão legado. No caso dos estádios, essenciais, tomamos uma providência muito clara. Eles disseram que os estádios serão privados. Dentro dessa visão, eles não estariam na matriz de responsabilidade do governo federal. Mas a União, sabendo do seu poder de financiamento, principalmente de longo prazo, escalou o BNDES para financiar dentro dos valores definidos internacionalmente pela Fifa. 
São até 400 milhões de reais. Na última avaliação, das obras de estádios em andamento, dez estavam com zero de problemas, fora as dificuldades normais inerentes a grandes projetos. Uma licença que atrasa aqui, algo que precisa arrumar ali. Dois não tinham iniciado obras ainda e eram problemáticos. Um por problema na licitação, que foi refeita. O outro, por conta de uma discussão entre o Ministério Público Federal, o TCU e a CGU. E havia o estádio em São Paulo, cuja situação é pública e notória, e por isso eu a cito aqui. Fizemos muita pressão para resolver o impasse de uma vez por todas. O governo estadual decidiu então entrar, assim como a prefeitura. Acreditamos que o estádio em São Paulo será o que vai ficar pronto mais em cima da hora, mas vai ficar pronto antes do começo da Copa. Vamos supor, porém, que haja algum que não fique pronto. Temos 12 sedes e, em qualquer hipótese, seria possível realizar a Copa com bem menos do que isso. Não vejo risco nenhum nesse sentido.

CartaCapital: E o resto da infraestrutura? Aeroportos, por exemplo. 
DR: No dia dos jogos vai ter feriado e não haverá concorrência com a estrutura logística. Os aeroportos são, ao contrário, essenciais, ainda mais em um país continental. Dos aeroportos com grandes problemas, temos São Paulo e Brasília, os demais têm muito menos problemas. Por isso decidimos fazer concessões privadas em ambos. Estamos perto de bater o martelo na formatação do leilão. O edital sai em dezembro, a contratação em fevereiro ou março. Concederemos 51%, os outros 49% ficam com a Infraero. Antes, explico o que não vamos conceder: o sistema de navegação e o de aproximação, portanto, nenhuma das torres. Nem o sistema público responsável pela gestão dos voos. Vai continuar a ser responsabilidade do Decea (Departamento de Controle do Espaço Aéreo), na sua grande maioria, e da Infraero, em menor proporção. Sobra para o setor privado a exploração comercial, a administração do aeroporto e a ampliação.

CartaCapital: Aumentar a capacidade. 
DR: Em São Paulo, vamos reforçar Guarulhos, mas o futuro está em Viracopos, pois Cumbica caminha a passos acelerados para o esgotamento de sua capacidade. Ele não tem retroárea suficiente para expandir, a cidade cresceu naquela direção e o custo para desapropriar é elevado, tanto no que se refere a pequenos imóveis unifamiliares quanto a empresas. 

Já estudamos várias alternativas, inclusive mudar a configuração da pista, mas é inviável. O que podemos expandir? Os terminais de passageiros. Há ainda o que fazer no pátio e na pista. Fizemos agora uma contratação por emergência de um módulo e de um terminal. Serão entregues até dezembro, pois nossa preocupação não é só a Copa. A taxa de uso de avião cresce 20% ao ano no Brasil, um escândalo.

CartaCapital: São os puxadinhos... 
DR: Puxadinhos, meu filho, foi o que segurou a Copa da África do Sul. Não faremos isso. Vamos segurar até a Copa, mas, quando ela chegar, teremos estrutura. Qual é o problema? Guarulhos sustenta o sistema. A licitação terá de levar em conta esse fato. Vamos ter de criar um fundo que pegue parte dessa renda e a distribua. Ela não pode ficar apenas para quem explora o aeroporto. Não é uma licitação trivial, portanto. Em um segundo momento, vamos nos concentrar no Galeão (Rio de Janeiro) e em Confins (Belo Horizonte). O problema dos aeroportos não é da Copa, é algo para depois de amanhã. Asseguro que em 2014 estará tudo prontinho.

CartaCapital: E os legados? 
DR: Há 50 obras de legado. A Copa não depende delas para funcionar, é algo a deixar para as cidades. Os prefeitos e governadores têm até dezembro deste ano para ao menos iniciar a fase de licitação. Caso contrário, a obra sai do PAC da Copa e vai para o PAC normal. Por quê? Porque, se não licitar até o fim do ano, elas não ficarão prontas em dezembro de 2013. O governo federal pode fazer várias coisas, mas não pode obrigar ninguém a manter um ritmo se não tiver essas condições prévias.

CartaCapital: Como a senhora imagina o Brasil em 2014? 
DR: Farei tudo que estiver ao meu alcance para que o Brasil, em 2014, tire 16 milhões de cidadãos da miséria. Que a nossa classe média tenha na educação um caminho para manter sua condição e que aqueles que estão um pouquinho acima na pirâmide social desses 16 milhões de miseráveis passem para a classe média. Quero consolidar um Brasil de classe média. Além disso, quero ter transformado, ao menos em parte, a área de saúde. Não podemos ter hospitais em quantidade absurda, mas podemos ter uma política de regionalização, como tivemos no caso das universidades. E aí tem outra solução. Não sei se vocês sabem, mas precisamos ter, no governo, obsessões. E a minha próxima obsessão é o tratamento em casa, o home care, levar o atendimento de um hospital às casas das famílias. Por quê? Por que queremos inventar uma coisa sofisticada? Não, porque é mais barato, é melhor para as pessoas e por poder ser feito em escala maior com um custo fixo muito pequeno e com um custo variável interessante. Isso vai descongestionar o tratamento final nos hospitais e diminuir a quantidade de tempo que as pessoas permanecem ocupando um leito.

CartaCapital: A senhora poderia dar mais detalhes? 
DR: Ainda não. Estamos fazendo as contas, na ponta do lápis, pois não faremos nada sem convicção. Hoje, a convicção sobre a viabilidade do projeto é de 90%. Vamos dimensionar o tamanho. Por isso falo: certas coisas só se fazem com obsessão. Começamos pelas UBS (Unidades Básicas de Saúde). Estamos reequipando, remodelando e modernizando cerca de 40 mil unidades. Temos o mapa da pobreza feito pelo Censo, por grupo e região, e as 3 mil UBS que temos para construir vão para esses locais. 

O mesmo acontece com a Rede Cegonha. Não vamos conseguir fazer em todos os municípios, mas estamos começando por aqueles com o mais baixo nível de tratamento, de acesso a equipamentos de saúde.

CartaCapital: Falemos de uma obra bastante criticada. Por que o seu governo insiste no trem-bala? 
DR: As mesmas pessoas que hoje criticam o trem-bala diziam nos anos 1980 que o Brasil não deveria fazer metros, era coisa de país rico. Deu no que deu. O trem-bala não se justifica naquelas extensões chinesas, de 1,5 mil quilômetros. Na extensão entre o Rio de Janeiro e São Paulo é absolutamente justificável. Não se trata apenas de oferecer mais uma alternativa de transporte, mas de produzir uma reconfiguração urbana. E um ponto que ninguém discute. No trajeto entre o Rio e São Paulo vai ocorrer uma desconcentração urbana. O cara entra no trem-bala, desce no centro da cidade e vai trabalhar. Se não encontrarmos uma solução para as duas metrópoles, teremos uma banana gigantesca nas mãos. Ficarão inviáveis. Uma vez em Tóquio percebi que as ruas eram estreitas, mas não havia congestionamentos. Quis saber o motivo e me explicaram que o sistema de trens criado depois da Segunda Guerra Mundial tinha mudado a direção urbana das cidades. Nas paradas entre Tóquio e Kyoto criaram-se bairros, áreas de moradia. Pense no percurso entre São Paulo e Rio, entre a serra e o mar. É um dos lugares mais bonitos do País. Não existirá motivo para que as pessoas não queiram morar nesse caminho. Com o trem-bala, alguém que viva a 60,70, até 100 quilômetros do Rio ou de São Paulo chegará rapidamente aos centros dessas cidades.

CartaCapital: A Comissão da Verdade vai sair do papel? 
DR: Vai sim, vamos criá-la. Queremos que seja unânime nas bancadas do Congresso. Não há motivo nenhum para o PSDB e o DEM não a aprovarem. Não é algo que pode serviste partidariamente, é uma dívida que temos. 

Por Luiz Gonzaga Beluzzo, Mino Carta e Sérgio Lírio
Em entrevista à revista Carta Capital