domingo, 21 de agosto de 2011

Audaciosa crítica de Raul Seixas à submissão da elite brasileira

Considerado um dos pioneiros do rock brasileiro, o baiano Raúl Seixas passou maus bocados por sua arte contestadora e, por vezes, um tanto mística. Coisas de artista. Neste domingo (21), completam-se 22 anos de sua morte, mas sua legião de fãs não para de crescer.

Por Marcos Aurélio Ruy

Com mais de 20 anos de carreira, chamado por muitos de o “pai do rock brasileiro”, Raul Seixas emplacou inúmeros sucessos na música popular brasileira ao misturar baião - inspirado principalmente em Luiz Gonzaga- e rock, sob inspiração dos anos 1950, principalmente por Little Richard, o som meio anárquico de Frank Zappa e a revolução chamada Beatles, essencialmente John Lennon. Foi muito influenciado ainda pelo místico inglês Aleister Crowley, que pregava “faze o que tu queres, há de ser tudo da lei”.

Nessa miscelânea de sons e temas, Raul lança seu primeiro disco, Raulzito e Os Panteras, em 1968, não emplaca nas paradas, mas já mostra sua cara irreverente e tenaz na crítica ao sistema. Ao aproximar-se da Jovem Guarda, participa de um disco intitulado “Vida e Obra de Johnny McCartney”, com Leno, da dupla Leno e Lilian, que tem as letras censuradas e o disco acabou por não ser lançado. 

Distancia-se da Jovem Guarda com sua arte contestadora, de forte apelo social e crítico à ditadura e ao capitalismo. Sofre forte censura do regime militar de 1964, cria a Sociedade Alternativa, com música homônima, e os militares pensam tratar-se de grupo guerrilheiro. É preso, torturado e obrigado a sair do país, juntamente com o atual escritor místico Paulo Coelho, seu parceiro em inúmeras canções. 

Raul Seixas critica com veemência a escola e diz em entrevista “nunca aprendi nada na escola. Minto. Aprendi a odiá-la” e complementa com a afirmação de que “tudo o que aprendi era nos livros, em casa ou na rua.” Isso numa época em que até a escola estava sob o crivo da ditadura. 

Em 1971 lança, sem autorização da gravadora, o disco “Sociedade Grã-Ordem Apresenta Sessão das Dez”. O disco some misteriosamente do mercado e Raul é expulso da multinacional CBS. No ano de 1982, ao aparecer embriagado e sem documentos para um show em Caieiras (SP), é confundido e torna-se “impostor de si mesmo”, quase é linchado pelo público, preso e espancado pelos policiais.

Esse ar de irreverência esteve presente em toda a sua obra. Com críticas mordazes à falta de liberdade e aostatus quo. Na canção “Como Vovó Dizia” ele afirma: “quem não tem colírio usa óculos escuros, quem não tem filé como pão e osso duro, quem não tem visão bate a cara contra o muro.” Precisa ser mais claro? Também em “Ouro de Tolo” fala da tentativa de “pão e circo”, uma tese propalada pela burguesia para conformar o povo sem contestação.

Também esteve nas paradas canções com “Tente Outra Vez”, “O Dia em que a Terra Parou”, “Mosca na Sopa”, “Metamorfose Ambulante”, “Gita”, “Al Capone”, Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás”, “Sapato 36”, forte crítica ao patriarcalismo, e "Aluga-se”, na qual propõe alugar o Brasil para resolver os dilemas do país, cruciais ao povo brasileiro sob o obscurantismo fascista. Um dos seus maiores sucessos, porém, é “Maluco Beleza”, verdadeiro hino dos hippies brasileiros dos anos 1970.





Lança o disco “A Panela do Diabo”, em 19 de agosto de 1989, dois dias antes de sua morte, juntamente com o discípulo Marcelo Nova. Raul é encontrado morto em seu apartamento em São Paulo aos 44 anos.

Sucumbiu às drogas, ao alcoolismo e à diabetes. Tem sua arte, no entanto, viva na memória de uma enorme legião de fãs de todas as faixas etárias e sua contestação tornou Raul Seixas sem similar e sem substituto. Apresenta uma visão audaciosa dos costumes e da submissão da elite brasileira aos ditames imperialistas.


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