Por Luciano Siqueira*
Coalizões partidárias, obviamente, envolvem legendas de diferentes matizes políticos. Com alguma frequência representadas por lideranças que, na cena local, guardam entre si precedente conflituoso. No limite, o oposto seria cada partido por si, isoladamente, o que só ocorre em países onde o espectro partidário é de há muito estratificado. Assim mesmo, concluídas as eleições gerais, formam-se coalizões plurais para assegurar a formação do novo governo e lhe conferir condições de governabilidade.
No Brasil, o fenômeno muitas vezes se apresenta como verdadeiro caleidoscópio, constituindo-se alianças em certa medida inesperadas, porém não menos necessárias. Desde que concertadas em torno de um projeto comum, de curto e médio prazo. Isto vale tanto para os partidos que se perfilam no campo à esquerda, como para os situados à direita. Forças de centro costumam oscilar entre um polo e outro, conforme as circunstâncias.
O exame criterioso das coligações partidárias há que considerar devidamente forma e conteúdo, que nem sempre se adequam perfeitamente. Olhem-se as siglas ajuntadas em torno de um projeto eleitoral ou no apoio a um governo constituído: ora exibem desenho aparentemente coerente, ora a aparência é contraditória ao excesso. Quem diria, por exemplo, que o PP (no qual milita Paulo Maluf) passaria à base de sustentação do governo Lula, e agora do governo Dilma, numa aliança que já perdura há 10 anos?
"Absurda incoerência!", esbravejam os que olham tão somente a superfície. "Nem tanto", contrargumentam os que se dão ao trabalho de verificar que o apoio do PP não comprometeu os avanços significativos registrados nos oito anos de Lula, no rumo de um novo projeto nacional de desenvolvimento. Implicou contradições e disputas, no interior do governo e na sociedade, é verdade, nem sempre bem resolvidos; mas contribuiu para dar ao governo a sustentação parlamentar indispensável à governabilidade.
Cá na província, Eduardo Campos elegeu-se governador pela primeira vez tendo passado ao segundo com o apoio decisivo do PR (liderado pelo deputado Inocêncio Oliveira, de larga tradição nas hostes conservadoras) e do PP (que tem entre seus próceres o ex-deputado Severino Cavalcanti, idem). Mas jamais esses dois partidos de extração conservadora deram forma e conteúdo à campanha e, posteriormente, ao governo. Foram e continuam sendo aliados importantes, mas o conteúdo do projeto político-administrativo é determinado pelos compromissos programáticos assumidos publicamente pelo PSB e seus parceiros à esquerda.
Isto posto, sejamos capazes de enxergar o jogo natural das alianças políticas com um olhar menos preconceituoso e mais afeito à análise concreta da situação concreta.
* Luciano Siqueira é médico e Deputado Estadual de Pernambuco. Já foi vice-prefeito da cidade do Recife por 8 anos. Atualmente preside o PCdoB da capital.
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